A Bala

Ajudem a moça!

Foi o que me levou a ir ver o que tinha acontecido.

- Se afastem, sou médico, posso ajudá-la.

E a multidão se afastou.

Ela estava em péssimas condições, o tiro havia acertado no peito e provavelmente perfurado o pulmão ou pior, o coração. O que me deixou intrigado foi um botão de rosa que haviam deixado em cima dela.

Coloquei uma gase para tentar diminuir o sangramento, mandei chamarem a ambulância. Naquele momento eu não tinha muito o que fazer. Apenas segurei em sua mão, e disse-a em seu ouvido que tudo acabaria bem, que se estive me ouvindo, que mechesse o braço de alguma forma. E ela mecheu.

A ambulância chegou, fui com ela, e ajudei no que pude lá. Pedi no hospital para que eu fosse o médico responsável, falei que queria cuidar dela. Deixaram. Peguei esse caso para mim e iria salvar a vida dela a todo o custo.

Fiz a cirurgia para tirar a bala que estava alojada em suas costas, recuperei no que pude o pulmão perfurado. Fiz tudo que pude, tudo mesmo. Ela entrou em coma.

Acompanhei o quadro dela, não medi esforços. Recusei todo o tipo de pagamento que me ofereceram, eu sabia que eu era caro, eu era o maior especialista do país em casos deste tipo.

A gratidão da família dessa menina já estava valendo todo o dinheiro do mundo.

Ela acordou.

- Bom dia, Cristina. Eu sou o Dr. Álves, estou cuidando de você.

Ela olhou de um lado para o outro, e falou:

- Você é o dono daquela voz?

- Que voz?

- Que me pediu para balançar meu braço.

- Sim sou eu - falei assustado, meu Deus, como ela se lembra disso? Estava praticamente inconsiente, não era para se lembrar.

Alguns dias se passaram, ela se recuperou e a bala que eu tirei do peito dela, tenho certeza, veio parar dentro do meu coração, o estrago foi irreparável e hoje ela se chama Cristina Alves e tem 3 filhos, mora com um médico especialista em casos de perfuração no tórax.