Até quando?

Já era tarde, quase de manhã, e ele insistia em me ligar.

Falei que não queria mais conversa, que tinha acabado, mas ele não dava sossego.

Finalmente parou, deu um tempo, parecia que tinha se conformado. A chuva batia delicadamente na janela. Deitei. Fechei os olhos. O som da chuva estava me levando para longe, para uma terra de sonhos. Eu sonhava, mesmo acordada, sonhava. E esse sonho era lindo, não tinha agressão, eu era feliz. Pensei comigo mesma, tudo isso acabou, ele não vai mais me enfernizar.

O sol raiava, e eu, contrastando com o dia que acendia, apagava.

Continuava naquele meu sonho maravilhoso, campos floridos, felicidade. Ah... A Felicidade, quanto tempo faz que não a encontro?

Repentinamente, tudo acabou, o sonho, o sono.

Era ele, estava batendo em minha porta com todas as suas forças.

Eu conseguia escutar:

- Abre essa porta, abre!

- Abre essa porta!

Comecei a chorar, descontroladamente, enquanto escutava ele ao fundo, gritando e socando aquele obstáculo de madeira que ele encontrava à sua frente.

Fui para a cozinha, peguei o maior e melhor facão de churrasco meu.

Ele continuava a gritar.

Fui para frente da porta, exitei, pensei. Abri.

Com a faca em punho. Assim que a porta se abriu, já coloquei a minha arma debaixo de seu queixo e disse:

- Até quando? Me diz, até quando você vai me perturbar?

Ele chorava, parecia arrependido. Me desarmou, sem nem tocar em mim.

Então ele falou:

- Até quando você me perdoar, porque eu te amo, fiz isso porque te amo, eu te quero, volta!

Não agüentei, afinal, também o amava. Soltei a faca no chão. Chorei.

Ele continuou.

- Não tive culpa, você me provocou, não queria isso. Eu quero um dia me casar com você. Volta para mim!

Sem pestanejar me joguei em seus braços, nos beijamos.

No outro dia, saí com ele, estávamos bem. Mas não durou uma semana e os hematomas no meu corpo voltaram, minha tristeza voltou, a felicidade? Passava longe.

E eu me perguntava.

- Até quando?

*Nota da redação: O eu racho é totalmente contra qualquer tipo de violência.

Eu ouço: Nando Reis - Quase que dezoito